terça-feira, 22 de novembro de 2016

CENTENÁRIO DE EUCLIDES PAES MENDONÇA (parte final)


Antonio Samarone de Santana.

Na verdade, as profundas mudanças econômicas que estavam ocorrendo em Itabaiana, conforme apontamos nos dois artigos anteriores, permitiram o nascimento de uma nova liderança, Euclides Paes Mendonça, com um jeito diferente de fazer política, colocando o eleitor como uma mercadoria a ser disputada. Líder de ascensão rápida, quase apoteótica, favorecida pela chegada de Leandro Maciel ao poder Estadual.
A política se colocou como uma excelente aliada na guerra comercial emergente, na ocupação dos novos mercados, decorrentes da ligação rodoviária de Itabaiana com o resto do país. Euclides entrou na política para favorecer os seus negócios, melhorar a sua competitividade na guerra comercial, não é por acaso, que a frase principal de Euclides no discurso de posse na Prefeitura de Itabaiana, em sua primeira vitória eleitoral, foi: “agora quem passa contrabando sou eu”, refletindo suas principais motivações. 
Em 1947, Euclides entrou na política e perdeu a eleição para Prefeito de Itabaiana para Jason Correia, apoiado por Manoel Teles; no pleito seguinte, em 1950, ele derrotou o próprio Manoel Teles, tornando-se Prefeito de Itabaiana. Nesse primeiro mandato ainda de baixo, pois o PSD governava o Estado. Em 1954 vem o apogeu, Euclides elegeu-se deputado estadual, o segundo mais votado do Estado, elegeu o Serapião Góis prefeito de Itabaiana, e a UDN chegou ao poder, através de Leandro Maciel. O crescimento do império político e econômico de Euclides disparou. Euclides estava de cima, como se dizia. 
Em 1958, o já poderoso Euclides Mendonça voltou a prefeitura de Itabaiana, ganhando a eleição para um noviço na política, Dr. Pedro Garcia Moreno, o médico do povo. Aqui apareceu a primeira ameaça à hegemonia de Euclides na região do agreste central; seu irmão, Pedro Paes Mendonça que resolveu disputar o mandato de Deputado Estadual, e se elegeu pelo PSD; Euclides lançou José Sizino de Almeida para estadual e perdeu. Comentários que Sinhá, a esposa de Euclides, tenha votado no compadre e cunhado Pedro, circularam com ares de verdade.
A eleição de Pedro Paes Mendonça ascendeu uma discordância familiar, os dois eram empresários talentosos e ambicionavam expandir seus negócios. Pedro resolveu levantar a bandeira da autonomia da Moita Bonita, e ali estabelecer o seu Condado. A Moita era um pequeno arruado, bem menor que o Capunga, mas Pedro queria a Moita emancipada de Itabaiana. Como Deputado, começou a levantar essa bandeira. Euclides, Prefeito de Itabaiana, não gostava da proposta. 
Em 1962, após 12 dominando a política de Itabaiana, 4 na oposição estadual e 8 com governos aliados da UDN (Leandro Maciel e Luiz Garcia), Euclides realizou o seu maior voo, elegeu-se Deputado Federal, elegeu o filho Deputado Estadual e José Sizino de Almeida Prefeito de Itabaiana, aparentemente, a trajetória estava apenas começando, já rico, poderoso, Deputado Federal; mas o destino pregou-lhe uma peça, a UDN perdeu o Governo do Estado, Seixas Dória é eleito pelo PSD.
Ao nível nacional o país vivia a ebulição das reformas de base, renuncia de Jânio, parlamentarismo, Jango, e desconheço qualquer posição de Euclides Paes Mendonça sobre qualquer coisa da grande política; em Sergipe, Seixas Dória prometia um governo de mudanças, também Euclides silenciava, suas preocupações centravam-se no domínio político de sua região e na expansão dos seus negócios. Minha tese, defendida ao longo deste ensaio, é que Euclides foi um grande empresário, e que usava a política apenas para fortalecer seus negócios. Na ocasião de sua morte, era o mais rico dos três irmãos famosos.
Como continuar sendo o Manda-Chuva do agreste se agora, com a eleição de um Governador do PSD, ele perdia o controle da polícia e do fisco? No quesito polícia, ele resolveu fortalecer a guarda municipal, e Itabaiana passou a ter duas policias uma da UDN e outra do PSD, isso não poderia dar certo, como não deu. Os adversários locais de Euclides começaram a criar asas. Manoel Teles voltou a ter os privilégios do fisco, Pedro, o irmão, se fortaleceu, viabilizando a emancipação da Moita Bonita, onde se tornou o seu primeiro prefeito. Tudo gerou muito atrito e muito foram os ódios acumulados.
É evidente, que o assassinato de um Coronel da Polícia, numa troca de tiros com a Guarda Municipal, foi um estopim para o que veria acontecer em seguida. Os principais inimigos políticos com relações envenenadas, inclusive o irmão, governo do Estado contra, policia militar ressentida com a morte de um Coronel, nessa conjuntura, os estudantes realizaram uma passeata reivindicando água, durante o evento, ocorrem desentendimentos entre Euclides e o filho, com os manifestantes, e os dois são assassinados, numa história contada e recontada por muitos. 
Pouco depois do ocorrido, instalou-se uma ditadura no país, Seixas Dória foi cassado, Pedro Paes Mendonça aconselhado a ir embora, indo para Pernambuco, onde construiu a bem-sucedida rede de supermercado Bom Preço, Manoel Teles foi assassinado, como vingança pela morte de Euclides, os correligionários pessedistas envolvidos fugiram de Sergipe. Gentil Barbosa, sobrinho de Sinhá, comprou o armazém de Euclides em Itabaiana, e iniciou a construção da bem-sucedida rede G. Barbosa; e Mamede Paes Mendonça estabeleceu-se na Bahia, montando a famosa rede Paes Mendonça. 
Acredito, que a história dos três irmãos famosos, os Paes Mendonça, Euclides (depois Gentil Barbosa), com a rede G. Barbosa; Pedro com a rede Bom Preço, em Pernambuco; Mamede, com a rede Paes Mendonça, na Bahia, constituíram-se num raro episódio da história econômica brasileira, de como três talentos empresariais saído de Serra do Machado, à época município de Itabaiana, (Ribeirópolis foi emancipado em 1936), nascidos uma sociedade agrícola tradicional, se constituem em três potências econômicas regionais; sendo que no caso de Euclides, teve uma correlação com a política pelo tempo de 13 anos.

Economicamente, Itabaiana consolidou-se como um grande polo de comercio em Sergipe, permanecendo forte em armazéns e supermercados, mesmo esses setores tendo passado por um processo de internacionalização, e pelo setor de transporte, tornando-se a capital dos caminhoneiros. A competência comercial da cidade e dos seus filhos é reconhecida. As coisas são mais baratas em Itabaiana do que nas fábricas, e tudo com nota fiscal. Exportamos ouro e castanha para o Brasil, sem ter nem cajueiros nem mina de ouro. Uma coisa é certa, continuamos produzindo a melhor farinha de mandioca do Brasil. 

Texto original: EM DEFESA DAS CAUSAS PERDIDAS

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