domingo, 29 de março de 2015

Antigas profissões do cebolas XIII - Os Funileiros

No decorrer da história da humanidade existiu e ainda existem várias profissões. Umas existem desde os tempos remotos até os dias atuais e outras apareceram e desapareceram de acordo com a necessidade. 

Uma profissão (não reconhecida pelo Estado) muito importante na sociedade no início do século passado era a de Funileiro. O nome da profissão já nos induz que ele fabricava FUNIL. Na realidade, o funil era o produto mais procurado e fabricado por este profissional. Mas ele fabricava além do funil: candeeiro, ralador, latas (geralmente para o transporte de água), bicas, ratoeiras, brinquedos, etc.Eram verdadeiros artesões a serviço da comunidade.. 


Serviço dágua


O transporte de água no dorso de animais
ainda é comum em muitos povoados.
Antes da década de 60, do século XX, não existia água encanada na cidade de Itabaiana. Toda água consumida vinha de cisternas e de fontes d'água próximas a cidade. Essa não existência do serviço de fornecimento de água propiciava trabalho a outro tipo de profissional atípico: o vendedor de água! O vendedor de água ganhava a vida vendendo água em latões (fabricado pelos funileiros) e geralmente entregando o produto em cada residência (o mais conhecido era carboreto). Tinham os que ganhavam  algum dinheiro (alguns garotos da época) vendendo água, para beber, nas feiras livres e utilizando a famosa Muringa (moringa). 

Toda água era trasportada em latões no dorso de animais (geralmente jegues). Esses latões eram feitos de folhas de zinco, que eram pregados dando voltas em dois pedaços de madeira (formato quadrado) e essa madeira tinha, na parte considera de cima, um buraco por onde se colocava a água. Para evitar perda de tempo e desperdício de água, na hora de encher esses latões, se colocava um funil no buraco e a água era derramada neste funil, com um pano para cuar (filtrar) as partículas sólidas. 


Venda de gás (na realidade querosene)


Embora a cidade já constasse com serviço de energia elétrica, desde o início do século passado (século XX), a falta de energia era uma constante. Os bairros mais distantes e povoados não contavam com o fornecimento de energia elétrica. Para iluminar as casa eram usados candeeiros (feitos por funileiros) e lampiões. O combustível utilizado era o querosene e o transporte era feito em garrafas de vidro. Para encher essas garrafas, candeeiros e lampiões era utilizando o importante Funil!


Fabricação da fogos de artifício


Para se encher os canudos das chuvinhas, as tabocas de pequenos foguetes e até mesmo de pequenos vulcões se utilizava o Funil. A pólvora era colocado dentro desses vazilhames socando através de um funil fabricado especificamente para esse serviço. Era um procedimento que se exigia muito cuidado. Uma pequena pedra caindo dentro de funil, por ocasião de se socar a pólvora, se faria fricção e provocaria um incêndio que geralmente era muito grave. O funil além de facilitar a colocação do produto evitava o desperdício.


A matéria-prima


Para o fabrico dos utencilios eram usados folhas de zinco, folhas de flandre e reaproveitamento (eram verdadeiros recicladores) de latas vazias de diversos produtos. Todo o trabalho era manual e exigia muita habilidade e criatividade (verdadeiros artesões).


Os mais conhecidos


Os funileiros mais conhecidos, da cidade, era Cosme e Fobica. Cosme foi meu vizinho no Beco do Ouvidor e o mesmo trabalhava na calçada da residência. Nunca encontrei Cosme sóbrio, mas mesmo assim realizava o trabalho de maneira magistral e os produtos saiam com perfeição. 

Fobica (nunca soube o nome do mesmo), eu o conheci quando fui morar na Rua Hunaldo Cardoso (continuação da Rua das Flores) esquina com Padre Felismino. Trabalhava em uma garagem alugada, bem em frente ao Campo do Baltazar. Costumava agradar a mulecada distribuindo apitos feito de lata. Os garotos da rua costumava levar as latas que esvaziavam (as mais comuns eram latas de leite em pó), em casa, para que ele reutilizassem. 

Existiam muitos outros, mas eu conheci mais dois (não tinha amizade) que eram chamados de galego. Um filho de Dona Rosinha (esse fabricava e a mãe vendia na feira) que morava na Rua General Siqueira e o outro galego que morava no recentemente construído Conjunto Miguel Teles de Mendonça, próximo a caixa d'água.

Textos relacionados:
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Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)

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